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Inovação aberta: guia estratégico para empresas que querem crescer mais rápido

Por 15/08/2023 05/05/2025 15 minutos

Na lógica da inovação aberta, as fronteiras entre empresa e mercado tornam-se transponíveis: ideias, tecnologias e talentos circulam para encurtar o ciclo que vai da descoberta à prática na transformação digital.

Essa abordagem parte do pressuposto que as respostas podem não surgir se olharmos só da porta para dentro. Por isso, ela exige uma gestão da inovação capaz de colocar na mesma mesa parceiros externos e ativos internos.

Para muitos C-levels, porém, os desafios da inovação aberta são muito claros: sem um ecossistema colaborativo, os roadmaps de produto não avançam, PoCs não ganham escalabilidade e a busca por vantagem competitiva perde força.

O que é inovação aberta?

Quando o professor Henry Chesbrough cunhou o termo Open Innovation em 2003, no campus de Berkeley, ele sinalizou uma ruptura bem-vinda: as fronteiras de P&D precisavam se abrir para ideias que nascessem fora dos muros corporativos. Isso aconteceu no lançamento de seu livro, intitulado The New Imperative for Creating and Profiting from Technology, da HBS Press.

Esse conceito — que define o que é inovação aberta — parte de um fluxo bidirecional de conhecimento: tecnologias podem entrar (licenciamento, parcerias, startups) ou sair (spin-offs, venture builders) conforme gerem valor para o negócio.

Na prática, falamos de um contraste claro entre inovação aberta e fechada:

  • No modelo fechado, todo desenvolvimento ocorre dentro de laboratórios próprios, protegidos por barreiras rígidas de propriedade intelectual;
  • No aberto, compartilhamos riscos e aceleramos descobertas por meio de hackathons, corporate venture capital e acordos de transferência de tecnologia.

A Samsung, por exemplo, criou o Samsung Creative Startups, um programa que acelera novos negócios em busca de soluções inovadoras. A Vivo, por sua vez, formou uma venture builder própria para investir em startups capazes de ampliar suas fontes de receita. 

Mesmo em ciclos econômicos mais restritivos, o modelo não perde fôlego: ele evolui, passa a demandar mais governança, métricas de cocriação e, sobretudo, uma base tecnológica apta a escalar ideias em produção.

É aqui que iniciativas de modernização de aplicações e transformação digital ganham ainda mais protagonismo, pois sistemas legados raramente suportam integrações ágeis com APIs externas ou dados compartilhados.

A transição entre os modelos de inovação

O livro lançado por Chesbrough expunha uma análise feita sobre o modelo de gestão da inovação utilizado por grandes empresas norte-americanas no século 20. O PhD percebeu que duas principais crenças guiavam as corporações:  

  1. Seus gestores acreditavam que detinham os melhores talentos e ideias, o que fazia da sua organização a melhor e mais inovadora; 
  1. E acreditavam que se haviam inventado algo, ninguém além da própria empresa seria capaz de comercializá-lo. 

Esse modelo baseava-se na ideia de que as empresas mais inovadoras, portanto, seriam aquelas com maiores investimentos internos em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). De acordo com Chesbrough, no artigo The Era Of Open Innovation publicado pela MIT Sloan Management Review: 

“No velho modelo de inovação fechada, as empresas aderiam a seguinte filosofia: a inovação requer controle. Em outras palavras, as companhias precisavam gerar suas próprias ideias, para então desenvolvê-las, fabricá-las, comercializá-las e distribuí-las. Tal abordagem fazia um apelo à autoconfiança: se você quer algo bem-feito, você mesmo deve fazê-lo”. 

Durante o século 20, esse tipo de inovação foi essencial para que empresas, como por exemplo a IBM, despontassem no mercado de tecnologia. Porém, com a chegada do século 21, o crescimento do número de trabalhadores do conhecimento, e sua consequente mobilidade, tornou impossível o controle de ideias e expertises pelas organizações. 

Ao mesmo tempo, houve também um aumento de investimentos privados (private venture capitals), o que impulsionou o surgimento de novas empresas: as startups. Essas, nasceram dispostas a comercializar ideias que surgiam independente das áreas de P&D, resultantes da difusão do conhecimento proporcionado pela internet.

Características da inovação aberta

Antes de avançar para os detalhes, vale lembrar que as características da inovação aberta surgem para organizar um ambiente essencialmente coletivo: várias mentes, uma meta única de gerar valor, e o desafio de fazer tudo isso sem engessar a gestão da inovação.

Veja quais são as principais características:

  • Inovação colaborativa: startups, universidades e fornecedores cocriam em sprints comuns, compartilhando backlog e KPIs. A soma de know-how acelera a descoberta e evita duplicidade de esforços;
  • Governança de IP: acordos definem quem aporta tecnologia, como patentes serão registradas e a divisão de royalties, protegendo ativos sem bloquear a cocriação;
  • Processos flexíveis: arquiteturas em microsserviços permitem trocar módulos via API, possibilitando experimentos rápidos sem interromper a operação crítica;
  • Plataformas de inovação: portais de desafio e sandboxes internos dão visibilidade aos dados e barreiras a serem superadas, facilitando a transformação de PoCs em MVPs escaláveis;
  • Incentivos conjuntos: OKRs e bônus são compartilhados, em que cada parceiro é remunerado pelo impacto de negócio gerado, mantendo o ecossistema focado em resultados.

Princípios da inovação aberta

Chesbrough explica que:

“O limite entre uma empresa e o ambiente ao seu redor se torna mais poroso, possibilitando que a inovação se mova facilmente entre os dois”.
Modelo de inovação aberta versus inovação tradicional

Em seu artigo, ele elenca os Princípios da Inovação Aberta, que devem guiar as organizações que pretendem atuar com tal modelo:

  1. Nem todas as pessoas mais inteligentes trabalham para nós, então precisamos nos conectar com o conhecimento e a expertise de pessoas brilhantes que estão fora da empresa;  
  2. Se fizermos o melhor uso das ideias internas e externas, nós vamos ganhar; 
  3. Nós devemos lucrar com outras empresas usando nossas invenções, e devemos comprar as invenções de outras para evoluir nosso próprio negócio. 

Benefícios da inovação aberta

Aderir a plataformas de inovação externas deixa de ser opcional quando o relógio do mercado gira mais rápido que o seu roadmap interno. Sabemos que empresas que operam em modelos colaborativos encurtam ciclos, diluem riscos e capturam conhecimento que seria impossível desenvolver sozinhas.

E não para por aí. Veja outros grandes benefícios da inovação aberta:

  • Time-to-market menor: parcerias permitem partir de PoCs validadas para MVPs em semanas; grandes bancos que integram fintechs via APIs, por exemplo, lançam serviços digitais mais rápido que concorrentes fechados;
  • Know-how externo on-demand: acesso a pesquisadores, startups e labs universitários adiciona capacidade de P&D sem inflar head-count;
  • Diluição inteligente de risco: o investimento se distribui entre vários atores e, com isso, se uma aposta falha, outras seguem.

Desafios da inovação aberta

Abrir os limites da empresa acelera resultados, mas também expõe fragilidades. A seguir, veja os principais desafios da inovação aberta que precisam ser mapeados antes de iniciar qualquer parceria:

  • Proteção de dados e compliance: iniciativas de cocriação exigem compartilhamento de informações estratégicas. A empresa deve conciliar LGPD, GDPR e normas setoriais (como as previstas pelo Bacen, Anvisa, Susep) com contratos de confidencialidade, dados anonimizados e políticas “privacy by design”;
  • Desalinhamento cultural: startups trabalham em ciclos curtos; corporações, em governanças mais rígidas. Mitigue o choque criando squads híbridas, definindo níveis de autonomia e executando rituais de integração (demos semanais, OKRs compartilhados);
  • KPIs nebulosos: para resolver esse desafio da inovação, implemente um “Innovation Accounting” que rastreie tempo de aprendizado, custo por experimento, taxa de conversão PoC-to-MVP e impactos na receita;
  • Transferência de tecnologia e propriedade intelectual: o Marco Legal da Inovação (Lei 13.243/2016) e a Lei 10.973/2004 fornecem caminhos para transferência de tecnologia em parcerias público-privadas. Contratos devem detalhar titularidade de patentes, licenças cruzadas e cláusulas de exploração comercial para evitar litígios futuros.

5 estratégias de inovação aberta

Para capturar valor em open innovation, não basta assinar convênios ou esperar ideias chegarem espontaneamente. As empresas que realmente transformam insights externos em vantagem competitiva combinam quatro alavancas complementares, cada uma atacando um ponto-crítico diferente do funil de inovação, do discovery à escala.

A seguir, veja como essas abordagens se traduzem na prática.

1. Cocriação com clientes

A forma mais rápida de validar valor é trazer o usuário para a mesa. Design Sprints de cinco dias envolvem clientes-chave em entrevistas, prototipação e testes de usabilidade, reduzindo de meses para semanas o ciclo que vai da ideia até o feedback.

A proximidade diminui retrabalho e ancora a solução em necessidades reais.

Sessões de Design Sprint para criação de produtos digitais

2. Crowdsourcing para ideação massiva

Plataformas como Kaggle, Topcoder ou hackathons corporativos liberam desafios de negócio a comunidades globais. O modelo “competição + recompensa” gera centenas de abordagens a custo fixo, expande a diversidade cognitiva e revela talentos que a empresa dificilmente atrairia em processos tradicionais.

3. Transferência de tecnologia via spin-offs

Quando uma PoC interna demonstra potencial fora do core, criar um spin-off permite avançar sem os freios da operação. A organização licencia know-how, retém participação acionária e monetiza patentes, enquanto a nova empresa ganha agilidade para captar recursos e escalar.

4. Corporate Venture Capital (CVC)

Um fundo de Corporate Venture Capital garante acesso privilegiado ao roadmap de startups, opções de M&A futuras e retorno financeiro direto. O ponto-chave é separar o comitê de investimento da governança operacional para evitar conflitos de agenda e manter foco estratégico.

5. Parcerias estratégicas com software-houses consolidadas

Nem toda demanda de inovação aberta exige uma startup recém-criada. Quando o desafio é evoluir (e não criar do zero) produtos digitais complexos — aplicativos, plataformas e sistemas core — firmar acordos com empresas de tecnologia maduras reduz curva de aprendizado, riscos de atraso e estouros de orçamento.

Google faz isso há anos: Android, Chrome e Maps contam com times externos altamente especializados, não apenas com ventures embrionárias.

“A grande maioria das corporações busca inovações incrementais que aprimorem produtos existentes. Nesses casos, parceiros de tecnologia com práticas consolidadas de desenvolvimento são os mais indicados para fazer a inovação acontecer.”
Osmar A. M. Pedrozo – CEO, SoftDesign

Ao combinar seu domínio do negócio com o know-how de uma software-house experiente em gestão da inovação e engenharia ágil, a empresa mantém controle, acelera o time-to-market e garante que cada sprint entregue valor real ao usuário final.

Quer transformar seu backlog em vantagem competitiva? Converse com nossos especialistas e descubra como a SoftDesign integra design, arquitetura moderna e entrega contínua para elevar a inovação.

Case Sicredi e SoftDesign – escala na gestão da terceirização com eficiência e governança

Em 2018, o Sicredi iniciou uma profunda transformação digital, que impactou áreas transversais da organização. Na área de compras e sourcing, os desafios eram evidentes: crescimento no número de terceiros, processos manuais e lentos, cobranças indevidas e baixa escalabilidade.

A parceria já consolidada entre Sicredi e SoftDesign evoluiu para um modelo de inovação aberta, cocriando uma solução sob medida: o Sourceflow. Com times ágeis, foco no usuário e inovação centrada no negócio, a solução trouxe governança, automação e visibilidade ao processo de gestão de terceiros.

Entre os principais resultados, destacam-se:

  • Redução de 70% no esforço operacional da área;
  • Economia de 10% nos contratos de profissionais terceiros;
  • Gestão de 1.200 profissionais e 20 fornecedores, com R$ 200 milhões transacionados anualmente.

A partir dessa colaboração estratégica, o Sourceflow tornou-se o primeiro produto SaaS da SoftDesign, validando como a inovação aberta pode transformar investimentos internos e operacionais em oportunidades reais de mercado.

Inovação aberta em produtos digitais

A estratégia de open innovation encontra seu terreno mais fértil quando alinhada a um desenvolvimento de software realmente ágil. Em vez de roadmaps estáticos, trabalham-se ciclos curtos que priorizam MVPs: versões enxutas do produto lançadas em produção para validar hipóteses com clientes externos e parceiros do ecossistema.

Ao coletar dados de uso, squads conseguem decidir — em semanas — se pivotam, escalam ou descartam a feature, diluindo risco e acelerando o ganho de valor.

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Para manter esse fluxo, feature-flags tornam-se peças-chave. Elas permitem expor funcionalidades apenas a segmentos ou parceiros escolhidos, testando integrações, regras de negócio e UX sem interromper o serviço.

Esse dinamismo cria um “laboratório vivo”, onde nova receita, performance e segurança são avaliadas em tempo real, antes do roll-out definitivo aos demais usuários.

Fonte: The Era Of Open Innovation – MIT Sloan Management Review (2003).

O resultado? Produtos digitais que evoluem sob demanda, incorporando rapidamente APIs externas, dados de crowdsourcing ou módulos de startups sem sacrificar governança.

Exemplos de inovação aberta

Os exemplos de inovação aberta abaixo mostram como diferentes verticais integram startups, universidades e big techs para encurtar ciclos de P&D, reduzir risco e acelerar receita:

Lego

A plataforma Lego Ideas convida fãs a submeter projetos de novos kits (ex.: Harry Potter, Friends). Quando uma proposta atinge 10.000 votos, a empresa avalia viabilidade, ajusta design e lança o produto em escala global, repartindo royalties com o autor.

A estratégia converte usuários em codevelopers, reduz custo de pesquisa e gera linhas que podem vender até mais que coleções internas.

Einstein & Eretz.bio

O Hospital Israelita Albert Einstein criou o hub Eretz.bio para conectar suas equipes a healthtechs globais.

Resultado: 150+ startups aceleradas, 27 tecnologias já incorporadas e um Corporate VC de R$ 140 milhões que mantém mais de 30 investidas ativas.

A instituição valida soluções em ambiente clínico real, enquanto as startups ganham credibilidade e acesso ao mercado. Essa via de mão dupla ilustra, na prática, como a inovação aberta transforma boas ideias em ganhos mensuráveis para todos os envolvidos.

Samsung – portfólio de quatro frentes

A sul-coreana estrutura sua open innovation em quatro abordagens:

  1. Parcerias de P&D com startups de Vale do Silício para agregar features a TVs e smartphones;
  2. Investimentos (venture) em startups early-stage que tragam novas tecnologias;
  3. Aceleradoras que oferecem laboratórios e mentoria;
  4. Aquisições de scale-ups estratégicas (ex.: Harman). O modelo garante acesso rápido a IP externo e antecipa tendências sem sobrecarregar laboratórios internos.

Impulsione a inovação aberta com parcerias especializadas

Adotar inovação aberta remove três bloqueios internos recorrentes: cultura avessa ao erro, escassez de recursos dedicados e processos engessados. Quando esses freios saem do caminho, ideias externas fluem, P&D ganha tração e o portfólio de produtos digitais evolui no ritmo que o mercado atual exige.

A SoftDesign acelera essa jornada: são 25 anos de prática e aprendizado em desenvolvimento ágil, design centrado no usuário e melhores práticas em engenharia de software, atendendo de scale-ups a corporações globais. Se o objetivo é aumentar a velocidade de entrega, reduzir riscos técnicos e transformar oportunidades em soluções escaláveis, fale com quem vive esse ecossistema diariamente.

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Nossos times ágeis são focados em entrega contínua e geração de valor. Trabalhamos de forma estratégica, orientados aos seus objetivos e métricas de negócio.

Perguntas frequentes sobre inovação aberta

Veja, a seguir, as respostas para as principais dúvidas sobre inovação aberta.

O que é inovação aberta e como se distingue do modelo fechado?

É a estratégia de open innovation na qual conhecimento circula para dentro e para fora da empresa (cocriação com startups, universidades, clientes). No modelo fechado todo P&D ocorre internamente, limitando velocidade e alcance.

Quais benefícios concretos a inovação aberta entrega?

Reduz time-to-market, dilui risco de P&D, amplia o ecossistema de inovação com acesso a talentos, transferência de tecnologia e até capital via corporate venture capital.

Quais os maiores desafios e como mitigá-los?

Proteção de IP, desalinhamento cultural e KPIs nebulosos. Use cláusulas contratuais robustas, governança de gestão da inovação e métricas claras para garantir retorno.

Foto do autor

Ângela Rosa

Brand Communications and Strategy na SoftDesign. Formada em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo (PUCRS), com MBA em Marketing Digital e Novas Mídias (ESPM-RS). Fala sobre Branding, Estratégia de Conteúdo e Marketing B2B.

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