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Publicado dia 15 de abril de 2021

O que é Cultura de Produto?

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O que é Cultura de Produto?

Cultura, latu sensu, corresponde a um conjunto de hábitos, valores e conhecimentos que diferenciam um grupo de pessoas de outro. As culturas estão arraigadas em crenças subconscientes, não-declaradas, que podem ser percebidas através de pistas visíveis que encontramos em processos, na forma como as pessoas se relacionam e em comportamentos.

No meio corporativo, o termo cultura aparece com frequência, e atualmente vem ganhando destaque associado a uma área específica: a de Produto. Para esclarecer um pouco mais sobre o tema, exploraremos neste SoftDictionary alguns termos específicos relacionados a Cultura de Produto. Mas antes, vamos entender exatamente o que ela é?

Cultura de Produto

A Cultura de Produto é um conjunto de hábitos, valores e crenças que favorece o conceito de produto. Caracteriza-se pela formação de times autônomos, orientados a alcançar objetivos de negócios através da criação ou evolução de produtos. Ela é fundamental para o desenvolvimento de produtos digitais alinhados à contemporaneidade, que atendam às necessidades de usuários reais e que entreguem valor para os clientes.

Enquanto cultura, ela é pervasiva. Deve impactar o modelo mental das pessoas, mas também os processos, artefatos e ferramentas da empresa. Por exemplo, a Cultura de Produto deve refletir a maneira como as pessoas são reconhecidas, como o sucesso é medido, e até a forma como contratos são firmados com clientes e fornecedores.

Para facilitar o entendimento, as vezes, é mais fácil explicar o que algo não é. Nesse sentido, podemos dizer que uma Cultura de Produto está em oposição à uma Cultura de Projetos, ou uma Cultura de TI.

Cultura de Projetos e Cultura de TI

A Cultura de Projetos foca-se em outputs (saídas), enquanto a Cultura de Produtos foca-se em outcomes (resultados). Isso significa que na primeira o sucesso é medido pela entrega de escopo, de listas de itens pré-definidos. Já na segunda o sucesso é medido pelo impacto gerado, independente do que foi feito ou quantos itens foram entregues. (Para conhecer mais sobre essa diferença, vale conhecer a iniciativa No Projects).

Cultura de TI foi um termo cunhado por Marty Cagan. Ele descreve aquele mindset no qual a TI está paralisada em processos operacionais, do dia a dia, sem perceber a premência de inovar, de entregar valor e de impactar o negócio como um todo. Se você acompanha nossos artigos, já sabe que costumamos nos referir a esse fenômeno como TI tarefeira.

Quem trabalha na Cultura de Produto não costuma dizer que trabalha ‘na TI’. Essas pessoas costumam se referir ao produto ou processo de negócio no qual atuam, mesmo que sejam programadores.

User Experience (UX)

Trabalhar Experiência de Usuário é criar um produto pensando nele sob a perspectiva do usuário. Isso pode parecer óbvio, mas a verdade é que o exercício de pensar como alguém diferente de nós é desafiador. E o que isso tem a ver com a Cultura de Produto?

A preocupação com a UX é um dos sintomas da transição de uma Cultura de TI (autocentrada) para uma Cultura de Produto (centrada no usuário). Afinal de contas, quem está preocupado em gerar real impacto no negócio certamente precisa buscar melhorar a experiência das pessoas que utilizam o produto, e não somente ‘empurrar’ uma nova solução.

Além disso, nos times de Produto não é somente o Designer que se preocupa com a experiência: todos os integrantes devem estar atentos às necessidades do usuário e a cada ponto de contato dele com o produto, para garantir que todos os detalhes estejam alinhados ao propósito do mesmo.

Experimentação

A adoção de experimentação é um sintoma da transição de uma Cultura de Projetos para uma Cultura de Produtos. Na primeira, não é normal reservar espaço para o aprendizado, já que a filosofia subjacente é uma abordagem racionalista preditiva. Definimos cedo um escopo detalhado, e aí basta garantir que ele seja entregue.

Mas produtos, serviços ou modelos de negócios inovadores só o são porque ainda não existem. Isso significa que eles são baseados em hipóteses, precisam ser validados e, portanto, a experimentação é essencial. Na Cultura de Produto é preciso estar aberto ao aprendizado constante, às mudanças e à diversidade de hipóteses.

Por mais que sejam realizadas pesquisas e entrevistas com usuários, que levantemos informações para apoiar o desenvolvimento, ainda assim o que fazemos ao definir o produto é uma proposição, uma hipótese de solução. É preciso testar rápido e com eficiência para aprender e descobrir se a experiência de usuário e o modelo de negócio proposto efetivamente funcionam. É para isso que serve o Mínimo Produto Viável (MVP).

Ownership

Uma verdadeira Cultura de Produto só existe se as pessoas do time possuem senso de dono. Afinal, quem se importa mais com um negócio do que o seu criador? A ideia aqui é que todo o time atue como owner e, portanto, verdadeiramente se importe.

Pessoas que se importam constroem, colaboram, melhoram e auxiliam nas definições. Elas têm visão de futuro do produto, são proativas para antecipar e resolver problemas e agem com entusiasmo e paixão. O ownership é responsável pelo orgulho que o time sente ao trabalhar no produto e contribui para a qualidade e o comprometimento.

Métricas

Outra característica da transição de uma Cultura de Projetos para uma de Produtos é a forma de medir o sucesso. Ao invés de mensurar pelo cumprimento de planos do clássico triângulo escopo, custo e tempo, passamos a analisar por métricas relacionadas ao negócio.

Não importa muito qual o seu ‘gosto’, afinal hoje temos muitos frameworks de métricas. Em alguns casos serão métricas de funil; em outros o seu produto pode ter uma métrica do tipo North Star; talvez a sua empresa adote Key Performance Indicators (KPIs); ou ainda você esteja usando Objectives and Key Results (OKRs) – o framework da moda para estabelecer objetivos e métricas.

O importante é entender que há uma mudança cultural. Em Culturas de Projetos, as pessoas estão preocupadas em entregar o que foi pedido, dentro do prazo. As conversas geralmente são sobre tempo, ou sobre percentual de completude das tarefas.

Em Culturas de Produto os assuntos são outros. A conversa gira em torno de indicadores reais, como faturamento, número de clientes, percentual de conversões. Esses números deixam de ser segredos e passam a ser tratados diretamente pelo time que busca, por meio de experimentos, descobrir como impactar positivamente esses indicadores.

Qual a cultura da sua empresa?

Deu para perceber que esses termos que exploramos estão interligados, certo? A Cultura de Produto surge como uma alternativa a Cultura de Projetos e a Cultura de TI. Ela é focada em produtos voltados a negócios e usuários, que precisam ser validados através de experimentação. O time que verdadeiramente se importa analisa os dados para avaliar o sucesso dos experimentos e evoluir o produto agilmente.

E você, que tipo de cultura enxerga na sua empresa? Perceba a forma como as pessoas se relacionam (colaboradores e clientes), como o sucesso é mensurado e como os processos são desenhados. Analisando esses artefatos, você saberá em qual cultura seu time trabalha e poderá perceber a necessidade de uma transformação.

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Karina Hartmann

Karina trabalha na concepção de produtos digitais para startups e grandes empresas. Também já foi Gerente de Projetos, Analista de sistemas, Programadora Java, e já trabalhou com melhoria de processo. É Mestre em administração pela UFRGS, onde estudou métodos de desenvolvimento de produtos digitais inovadores. É Bacharel em Matemática aplicada e Pós-graduada em Governança de TI. Tem as certificações CSM, PMP, CFPS e CPRE-FL.

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