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Publicado dia 17 de dezembro de 2019

Dual-Track na prática

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Dual-Track na prática

Você sabe o que é Dual-Track? É um método de organização e planejamento de trabalho em que descobrir “o que” construir é tão importante quanto a sua própria construção.

Com ele, resolvemos problemas como: o envolvimento tardio do time de desenvolvimento ágil no processo de descoberta e levantamento de requisitos; a frustração da equipe com histórias incompletas e mal definidas levadas para o planejamento da sprint; além de outras dificuldades que ocorrem durante o desenvolvimento de um produto digital.

De forma bem resumida, o método consiste em rodar as duas tracks – discovery e delivery, de forma simultânea e colaborativa.

Rodada de Dual-Track.

Pensando nisso, eu e a UX Designer Natália Franciele de Oliveira levamos o tema para o The Developer’s Conference de Porto Alegre, onde apresentamos como o Dual-Track ocorre na prática aqui na SoftDesign. Agora, apresentamos os resultados positivos desse processo aqui no blog. Confira!

O envolvimento do time nas duas tracks

Ao compreender como o Dual-Track se dá no contexto de times Scrum, identifiquei que ele não ocorre como uma simples definição de tracks. Para mim, ficou claro que o Dual-Track não pode ser rodado de forma isolada, como um método de organização de histórias em dois kanbans (discovery e delivery) pois o mesmo deve estar inserido na dinâmica diária do time.

Nesse sentido, aceitamos o desafio de atuar tanto na investigação da track de discovery, quanto na iteração continua que delivery nos permite. Dessa forma, possibilitamos o envolvimento de todos de forma cooperativa e espontânea, com o objetivo de realizar entregas de valor.

“Você não deve pensar nisso como dois processos — apenas duas partes de um processo”.

Jeff Patton — Certified Scrum Trainer Scrum Alliance, Consultor e Autor do livro User Story Mapping (O’Reilly)

O cenário

O produto que precisávamos criar era uma plataforma para conectar candidatos a uma organização a partir de processos de seleção definidos. Para entender melhor as especificidades do tema, utilizamos algumas etapas importantes:

– Concepção: P.O, Designer, clientes e usuários envolvidos no entendimento da necessidade;

– MVP: Após o entendimento e alinhamento do problema e das hipóteses para resolvê-lo, elaboramos um primeiro MVP ao mesmo tempo enxuto e que atendesse todas as pontas do processo que seria disponibilizado. Tudo isso validado com cliente e possíveis usuários;

– Imersão: Já com o time Scrum formado, foi realizado um alinhamento com os insumos da concepção, gerando entendimento do negócio e de expectativas envolvidas;

– Definição de DoR (Definition of Ready) e DoD (Definition of Done): Time Scrum e cliente criam as diretrizes para aceite das histórias na sprint e para release, gerando transparência e pertencimento;

– Release planning: Backlog apresentado e pontuado pelo time de desenvolvimento, identificando prematuramente a dimensão e possíveis caminhos técnicos do projeto.

Com essa integração, o time permaneceu intrinsecamente motivado, tanto pelo desafio quanto pelo sentimento de sentir parte do processo. Assim, todos puderem compreender o processo de discovery e do desenvolvimento na stack, com tarefas resultantes desse processo que geraram valor e se tornaram prontamente utilizáveis.

A interferência das cerimônias e atividades das sprints no Dual-Track

Nas cerimônias Scrum, conseguimos inserir de forma precisa e contínua, o papel do UX Designer. Esse processo foi extremamente importante para atingirmos nossas definições de entrega (DoD e DoR) relacionadas a UX e identificar possíveis hipóteses a serem validadas.

– Planning com pontuação do Designer;

– Dailies onde time de desenvolvimento e Designer se alinhavam em relação a Impedimentos de UX e UI, o que reduzia drasticamente o tempo de solução;

– Reviews e Retrospectives esclarecendo duvidas de interface e comportamento de telas, em uma atmosfera confortável e mitigando ansiedades que eram geradas durante a sprint.

Neste momento de cerimônias, tivemos a oportunidade de atuar com as novas hipóteses encontradas pelo time em ambas as tracks.  A abertura entre os integrantes do time propiciou a vontade espontânea de melhorar cada vez mais a entrega, identificando e descobrindo valores durante a execução de uma sprint, que posteriormente seriam transformados em histórias para o backlog.

Refinamento fora do comum

Com um processo de refinamento diferente dos tradicionais, utilizamos a metodologia Planning Poker, a fim de ajudar o time de desenvolvimento a se aprofundar nos temas propostos pelas histórias. Por conta da transparência entre os envolvidos e o entendimento de negócio claro proporcionado pela prática, conseguimos refinar histórias mais estruturadas e com protótipos de média fidelidade, o que facilitou ainda mais o processo.

Esta etapa também contribuiu para o envolvimento do time nas duas tracks, pois a medida que se apropriavam dos conhecimentos técnicos e de negócio, mais insumos eram gerados para serem validados ou absorvidos como solução na track de delivery.

Benefícios conquistados com Dual-Track

Rodando os dois kanbans de forma onde todo o time pudesse atuar nas duas tracks, obtivemos ganhos expressivos tanto para o time, quanto para o cliente. De forma geral, três pontos foram significativos:

– Entregas de valor;

– Aprendizados e aprimoramento das expertises;

– Melhorias continuas.

Destacamos as seguintes conquistas:

– Componentização da interface personalizada, alinhada com as entregas e de alto valor estético e performático;

– P.O., Q.A. e Designer atentos ao processo, identificando e prevendo inconsistências junto ao time;

– Identificação rápida de detalhes finos de interface, usabilidade e navegabilidade, com apoio de Designer nos testes exploratórios de Q.A;

– Time de desenvolvimento auto-organizado, criando fortes lideranças servidoras entre os membros;

– Todo o time se ajudando mutuamente, dentro e fora de suas próprias disciplinas, como agentes multidisciplinares;

Entendemos que UX (Experiência do Usuário) é algo que se constrói com os esforços de todos no time, e não apenas pelo papel de designer.

“Escalar o ágil precisa ser feito ajudando os outros, pois é nesse clima de cooperação que ele se instala e funciona. ”

Dave West — CEO e P.O Scrum.org

Moral da história

Desta forma, ficou claro para nós que o processo de discovery e delivery, quando orquestrado pelo time inteiro, organizado, envolvido e motivado pela entrega do valor, gera produtos fáceis de usar, esteticamente agradáveis e tecnologicamente atuais.

Nossa receita de sucesso foi a integração do time desde o início, trazendo a sensação de pertencimento e criando uma causa a ser defendida.

Foto do autor

Iris Ferrera

Agile/UX fan e IF no final das cartas. No dia a dia, acredita que cultura ágil transforma o social e tenta tornar os caminhos digitais mais fáceis.

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