PT EN
Publicado dia 16 de maio de 2023

IA Generativa e Criatividade no Web Summit Rio 2023

| Tempo de leitura 9 minutos Tempo de leitura 9 minutos
Desenvolvimento de Software Inovação Startups
IA Generativa e Criatividade no Web Summit Rio 2023

No início de maio, o Rio de Janeiro recebeu a primeira edição do Web Summit na América Latina, também primeira fora da Europa. Durante os quatro dias de evento, mais de 21 mil participantes, 900 startups e 400 palestrantes transitaram pelos pavilhões do Riocentro (espaço localizado na Barra da Tijuca, zona oeste da capital carioca), para discutir diversos temas ligados à área de tecnologia, incluindo IA Generativa.

Esse movimento de trazer o evento para o Brasil, em especial para o estado do Rio, promete ser muito importante para o ecossistema de startups brasileiras, e vem para destacar o país como um expoente em inovação. Durante a palestra Agora é hora de investir na América Latina, Aron Schwarzkopf, CEO da Kushki e especialista em Venture Capital, citou que “a grande adoção de métodos de pagamento na América Latina, em especial no Brasil, mudou a direção das ondas para o investimento em empresas brasileiras”.

Apesar das adversidades esperadas de uma primeira edição, o evento foi considerado um sucesso pelo público. O Estado do Rio de Janeiro já selou o compromisso de realizar mais cinco edições da conferência na cidade, com expectativas ainda maiores: a promessa é de movimentar, até 2028, R$ 1,2 bilhões e trazer incentivos para a instalação de empresas e startups na capital carioca.

Dentre os assuntos mais falados estiveram Criptomoedas, Cyber Security, Comércio Eletrônico, Agritechs e o futuro da educação e do trabalho. O destaque, entretanto, ficou para os debates sobre Inteligência Artificial Generativa e Criatividade.

Mas Afinal, O Que É IA Generativa?

A Inteligência Artificial Generativa é um tipo de tecnologia capaz de criar resultados originais com base em dados pré-estabelecidos, podendo desenvolver conteúdos em diversos formatos como imagens, textos e vídeos. Diferente dos modelos de inteligência tradicionais, que são programados para receber, reconhecer padrões e fazer previsões, a IA Generativa é capaz de aprender e melhorar seu desempenho por meio de interações com usuários.

Com o ChatGPT em alta, não foi surpresa que esse tenha sido o assunto presente na maioria dos debates do Web Summit Rio. O tema já tinha sido comentado em outras edições e também no SXSW deste ano, mas agora o foco é imediato. Já que o GPT e o Bard estão consolidados no mercado, a pergunta não é mais o que vai acontecer, e sim, “Para onde vamos a partir daqui? Quais as medidas e caminhos devemos tomar? Quais são as possibilidades?”. 

No painel A Inteligência Artificial Generativa vai transformar o marketing e a propaganda? os palestrantes brincaram com o fato da pergunta título não fazer mais sentido, pois ela já vem transformando. Daniela Braga, CEO e fundadora da Defined.ai, tem uma visão otimista sobre o assunto e garante que estamos em um dos momentos mais relevantes para a Inteligência Artificial. “Nós estávamos vivendo uma primavera da IA, que durou quase 10 anos. Agora, é a vez do verão”.

Ela completou dizendo considerar que estamos vivendo a próxima revolução industrial, e ela será indispensável para todos os setores da indústria. A IA Generativa se tornará o que é a Internet nos dias de hoje. “Vai afetar todo mundo, em todos os segmentos”.

IA no Desenvolvimento de Produtos Digitais

Além das discussões mais filosóficas, que questionaram o futuro, também foi possível acompanhar demonstrações da IA Generativa na tecnologia. Em Como construir um aplicativo em 18 minutos, Thomas Dohmke, presidente-executivo do GitHub, criou uma versão funcional do conhecido ‘jogo da cobrinha’. 

A demonstração foi feita no palco principal do evento, utilizando uma ferramenta da empresa que completa códigos iniciados por programadores. Chamada Copilot, a plataforma foi treinada a partir dos códigos e textos dos usuários do GitHub e é constantemente abastecida pelo GPT-4. 

Thomas Dohmke, presidente-executivo do GitHub. Fonte: Web Summit Rio.
Thomas Dohmke, presidente-executivo do GitHub. Fonte: Web Summit Rio.

Apesar das visões mais otimistas sobre o tema, Meredith Whittaker, presidente da Signal Foundation, acredita que devemos frear o desenvolvimento dessa tecnologia. No painel Por que precisamos frear o desenvolvimento da IA, a ativista na causa e uma das assinantes da carta para interromper os avanços recentes em Inteligência Artificial, disse acreditar que devemos nos preocupar com a facilidade em obter dados com a IA. Ainda, afirmou que esse mercado é muito concentrado, o que significa que apenas grandes empresas têm os recursos para continuar com o desenvolvimento.

Um ponto de consenso entre os diversos palestrantes é a necessidade de regulamentação urgente e a preocupação com a questão de privacidade. Para Chelsea Manning, Consultora de Segurança na Nym, é necessário que exista uma contribuição de toda comunidade tecnológica nessa discussão, pois é preciso entender melhor os impactos da IA Generativa, antes de limitá-la.

No painel IA é melhor com privacidade, Manning afirmou que é importante que a regulamentação seja específica para cada caso, de acordo com o risco envolvido, pois apesar de indispensável, ela não pode limitar o surgimento de inovações. 

A Importância da Criatividade

Com a IA Generativa aprendendo, reproduzindo e remixando, a criatividade aparece como diferencial essencial aos profissionais atuais. Por isso, o tema teve dois palcos específicos no Web Summit Rio, que reuniram variados debates sobre a área criativa.

Considerada como uma das principais habilidades do futuro do trabalho, muitos especialistas questionaram o que estamos realmente produzindo e como estamos produzindo. Alain Sylvain, da consultoria de design e estratégia Sylvain, trouxe como provocação o questionamento: “Será que nós, enquanto sociedade, não estamos supervalorizando a criatividade?”.

Segundo ele, apesar das centenas de livros, aplicativos, prêmios, tempo e dinheiro investido, não estamos realmente vendo o retorno em relação à inovação e resultado. Como exemplo, ele traz desenvolvimentos recentes em moda, cinema e até mesmo a baixa recente em dados de patentes nos EUA.

Para Sylvain, criatividade é sim importante, mas ela sozinha não garante sucesso, por isso, é sempre importante considerar o timing. Ele acredita que mesmo as melhores ideias, se forem lançadas antes ou depois do momento certo, dificilmente terão sucesso. Trazendo o conceito de Peak Innovation, ele aponta que três fatores definem o momento certo para uma ideia: o contexto cultural, o desejo dos indivíduos por aquele produto/serviço e a infraestrutura tecnológica para viabilizá-lo.

Peak Innovation. Fonte: Web Summit Rio.

O especialista apontou que diversas descobertas já estavam por aqui há algum tempo, mas precisaram aguardar o momento certo para alcançar o seu pico, como o elevador, o QR Code e o próprio ChatGPT. Para fechar, ele completou afirmando que nossa criatividade existe num espaço de tempo, e é preciso não desconsiderar o contexto durante a produção.

MVP Não É Para Todas as Áreas

Outro destaque do evento foi a participação de Brian Collins, diretor criativo da COLLINS, que comandou a palestra Regras de Design para provocar a criatividade. Ele defendeu que todo trabalho deveria ser significante, original e surpreendente, e criticou o uso do MVP (Produto Mínimo Viável) em áreas criativas e por profissionais de marketing, afirmando que isso faz com que muitos trabalhos mirem a conformidade. 

Como mudança de mindset, Collins defende que todo trabalho criativo deve ter storytelling, intencionalidade e surpresa. Ele inclusive fechou sua palestra com a frase: “Torne o futuro tão irresistível que ele se torne inevitável”. 

O termo MVP foi popularizado na área de tecnologia por Steve Blank e Eric Ries, para definir a mínima versão de um produto que possui os recursos suficientes para ser usado pelos primeiros clientes, com o objetivo de colher feedback para o seu desenvolvimento. Para entender mais sobre esse assunto, você pode conferir o artigo MVP: Experimentação e Aprendizado. 

Espaço de Convergência

A área criativa é uma das mais preocupadas com o avanço da IA Generativa e com a falta de regulamentação sobre a produção. Além do medo de futuramente perder o emprego para a tecnologia, profissionais se perguntam quem detém os direitos sobre os conteúdos gerados. De quem são os direitos autorais pelos conteúdos gerados em IA? Os dados da base que a geraram? Quem fez a pergunta? 

No painel sobre Marketing e Inteligência Artificial, Daniela Braga e Fernando Machado, CMO da NotCo, concordaram que a tecnologia não vai substituir diretamente o emprego das pessoas, mas é necessário se manter atualizado e aprender a utilizá-la. Apesar da geração de conteúdo ser um dos principais usos da IA, ainda será necessário ter um ser humano no processo de criação. “Embora seja possível criar música, imagens e uma infinidade de coisas com IA, é fundamental ter um ser humano no processo de criação”, garante Daniela.

Durante a conversa, Fernando Machado também ressaltou o avanço da tecnologia, que antes servia como uma ’curadoria de conteúdo’ e hoje é uma ferramenta de produção. Entre grande parte dos palestrantes, parece ser unânime que a IA vai permitir que as empresas produzam cada vez mais, com menos recursos. Para eles, a palavra-chave é produtividade

Apesar de muitas discussões do evento ficarem em aberto, o saldo final é a garantia que a IA Generativa não é apenas uma promessa ou tendência, mas uma realidade em diversas áreas e negócios. Mais do que isso, ela anda de mãos dadas com a criatividade e o fator humano, possibilitando o desenvolvimento de soluções e possibilidades mais relevantes. 

Vamos montar seu time de desenvolvimento?

Nossos times ágeis são focados em entrega contínua e geração de valor. Trabalhamos de forma estratégica, orientados aos seus objetivos e métricas de negócio.

criatividade cyber security ia generativa inovação startups web summit rio
Foto do autor

Caroline Belo

Designer na SoftDesign. Graduada em Desenho Industrial pela UFF, especialista em Design Thinking e educadora. Atua há 6 anos com foco em Design Gráfico, Branding e Estratégia de Marca.

Quer saber mais sobre
Design, Estratégia e Tecnologia?