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Publicado dia 23 de setembro de 2021

Setembro Amarelo: o que aprendemos com o CVV

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Setembro Amarelo: o que aprendemos com o CVV

Há dias em que nada faz sentido. Em que nos sentimos engolidos pela tristeza, pelo desânimo e pelo sentimento de vazio. Em momentos como esses, nem sempre conseguimos interpretar as nossas emoções e, por isso, falar sobre elas pode se tornar um desafio difícil. Entretanto, é preciso buscar uma saída para expressar tudo aquilo que nos vêm à mente e ao coração. Durante o Setembro Amarelo, a missão de todos nós é criar espaços de acolhimento e escuta, para que ninguém se sinta só, para que a ajuda chegue a quem mais precisa.

Pensando nisso, e na importância de compartilhar informação sobre o tema, abrimos espaço para as voluntárias do Centro de Valorização da Vida (CVV) ressaltarem a importância da conscientização e da prevenção ao suicídio. O bate-papo com as pessoas colaboradoras da SoftDesign ocorreu na primeira edição do SoftDrops* do mês de setembro e abordou temas importantes como saúde mental e iniciativas em prol da vida.

Sobre o CVV

O Centro de Valorização da Vida é uma associação civil sem fins lucrativos, criada por um grupo de jovens na cidade de São Paulo, em 1962. A iniciativa é resultado de uma preocupação com o crescente número de suicídios registrados na época. Atualmente, o CVV possui mais de 120 postos espalhados por todo o país e cerca de 4 mil voluntários. O trabalho humanitário desenvolvido ao longo de quase 60 anos é referência nacional e possui um termo de cooperação com o Ministério da Saúde, que cedeu uma linha telefônica gratuita de prevenção ao suicídio (o 188) para que toda população possa buscar atendimento 24h e sem custo de ligação.

O atendimento também pode ser realizado por um chat disponibilizado no site oficial da ONG. Esse canal está disponível de segunda a domingo, em horários específicos para cada dia da semana. O apoio emocional é direcionado para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato. Além dos atendimentos por telefone, chat e e-mail, o CVV também realiza atividades com a comunidade por meio de várias ações como palestras, rodas de conversa, grupos de apoio a sobreviventes do suicídio, seminários de escuta e outras vivências que possibilitam autoconhecimento e qualidade de vida.

O grupo de voluntários é composto por pessoas de várias profissões, aposentados, pessoas comuns que passam por um treinamento de cerca de doze semanas para adquirir conhecimentos e habilidades necessárias para atuar na linha de frente do Centro de Valorização da Vida. Qualquer pessoa com 18 anos ou mais, com pelo menos quatro horas disponíveis por semana, pode se inscrever para o curso gratuito de seleção e capacitação de voluntários para tornar-se plantonista do Programa de Apoio Emocional do CVV.

Vamos conversar?

Vera Borges é voluntária do CVV há quatro anos e diz acreditar que ao longo de nossas vidas desenvolvemos hábitos e costumes que nem sempre estimulam a prática do exercício da escuta ativa. “Ao chegar no trabalho, na escola ou em casa, muitas vezes nos deparamos com um desejo de bom dia. Entretanto, é comum escutarmos apenas as palavras, sem perceber as emoções escondidas nas entrelinhas. Infelizmente, identificamos durante os plantões que as pessoas estão cada vez mais isoladas no seu mundo, com dificuldade de se comunicar. Porém, precisamos lembrar que o ser humano foi feito para contato, relacionamentos, trocas e isso não está acontecendo. Vivemos em uma sociedade acelerada, focada em trabalhar e comprar. Mas e o outro que está ao nosso redor, como será que se sente?”.

De acordo com dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos. Vera é voluntária do atendimento via chat, plataforma criada justamente para proporcionar um canal de apoio ao público mais jovem, que prefere conversar por mensagem. “Nos plantões, a maioria das pessoas que atendo tem entre 9 e 25 anos. Não são todos que entram em contato dizendo que irão tirar a própria vida, mas muitos possuem um perfil solitário, pois não se sentem ouvidos e acolhidos”, destaca.

Existem frases padronizadas que não devem ser ditas para as pessoas que experienciam a agonia: “Vá para a igreja e peça para Deus lhe ajudar”, “Isso é frescura”, “Tudo vai melhorar” ou “Que tal tomar um remédio?”. “Temos a tendência de indicar fórmulas e conselhos prontos quando somos confrontados pelo sofrimento de alguém, mas a ajuda ideal é propor uma boa conversa, é exercitar o poder da escuta. O cuidado de uma pessoa em sofrimento emocional exige um atendimento de rede composto por psicólogo, psiquiatra, terapeuta, família, amigos e religião. Ela precisa de uma gama de coisas para conseguir se equilibrar e seguir”, explica Vera.

Saber escutar é uma arte

O CVV recebe aproximadamente 10 mil ligações por dia. Certamente, se todos nós aprendêssemos a ouvir mais, as filas desse atendimento seriam menores. Beatriz Becker também é voluntária do Centro de Valorização da Vida. Há seis anos, atua no 188, atendendo ligações de pessoas que precisam de ajuda. “Quando comecei o voluntariado descobri uma nova proposta de vida: ouvir o outro, numa sociedade onde ninguém ouve ninguém. Penso que todo ser humano, em algum momento, irá precisar de um apoio emocional para uma demanda que não dá conta. Também acredito que somos capazes de encontrar as nossas próprias saídas e, por isso, no CVV nós não damos conselhos. O que fazemos é escutar, validar o sofrimento, sem dizer que vai passar ou que amanhã é outro dia”.

A relação de ajuda no CVV é uma oportunidade de desabafo, onde todos podem falar sem ser interrompidos. Segundo Beatriz, a escuta ativa e a empatia são aprendizados de longa duração, que precisam ser revisitados diariamente. “É uma proposta que transformamos num modelo de vida. Confiamos que no final da ligação, a pessoa conseguirá olhar para dentro de si e abrir caminhos”.

Como ajudar?

Mantenha-se alerta nos seus grupos de convívio. Preste atenção no que as pessoas estão tentando comunicar. Perceba o cenário ao seu redor e ofereça ajuda. Estenda a mão ao próximo. Se coloque a disposição e forneça informação. Lembre-se que questões como idade, status social e religião não importam. O que importa mesmo é ser humano. “Os especialistas relatam depoimentos de famílias que dizem nunca ter desconfiado de nada, mas depois ao rever os fatos, acabam por refletir e observam que sim, a pessoa já havia dado sinais, havia apresentado um comportamento diferente. Por isso, preste atenção nas pessoas que estão ao seu lado. Deixaram de ser sociáveis? Estão mais caladas? Observe como você pode ajudar”, orienta Beatriz.

Compartilhe informações nas redes sociais, divulgue os canais do Centro de Valorização da Vida (CVV) e mantenha-se alerta em relação às questões de saúde mental. “O suicídio é real e isso é um caso de saúde pública. As estatísticas da OMS são preocupantes e é nosso papel despertar o humano que existe em nós. O CVV está aberto para todos que queiram ajudar ou buscar ajuda”, conclui Vera.

 

*O SoftDrops é um evento de troca de conhecimento que acontece às quartas-feiras, na SoftDesign. A cada edição, um colaborador expõe aos colegas algum tema de seu interesse, relacionado aos três pilares do nosso negócio: design, agilidade e tecnologia. A minipalestra dura em torno de trinta minutos e é seguida por um bate-papo entre os participantes.

Foto do autor

Pâmela Seyffert

Marketing & Communication na SoftDesign, Jornalista (UCPEL) com especialização em Gestão Empresarial (UNISINOS) e mestrado em Comunicação Estratégica (UNL). Especialista em comunicação e criação de conteúdo.

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