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Publicado dia 10 de setembro de 2020

Ecossistemas de Inovação: entrevista com a Prof. Dra. Aurora Zen

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Ecossistemas de Inovação: entrevista com a Prof. Dra. Aurora Zen

Nos últimos anos, assistimos ao constante crescimento de parques tecnológicos. Inspiradas pelo Vale do Silício, cidades e instituições brasileiras criaram espaços para que diversas empresas pudessem coexistir fisicamente e, assim, compartilhar objetivos comuns de proporcionar maior desenvolvimento e inovação para determinada região.

Os parques tecnológicos também ficaram conhecidos como ecossistemas de inovação, e a expressão passou a ser utilizada em outras áreas de mercado além da tecnologia. Mas será que um ecossistema de inovação é sempre delimitado por um espaço geográfico? Quais são suas principais características? E quais os benefícios para as empresas que os integram?

Para responder a essas e outras questões, convidamos a professora Dra. Aurora Carneiro Zen, administradora, Diretora de Serviços e Projetos do Parque Científico e Tecnológico da UFRGS e coordenadora do projeto Núcleo de Apoio à Gestão da Inovação na Empresa, para conversar conosco. Desde já, agradecemos a sua contribuição para o nosso blog.

Uma rede de atores em prol do desenvolvimento

SoftDesign – Gostaríamos de começar com a definição de um ecossistema de inovação. O que ele é e quais são as características que o definem?

Aurora Zen – Essa pergunta é muito pertinente, pois são diversas as definições que temos para o tema, visto que o termo ecossistema se adapta a muitas circunstâncias. De forma geral, as diferentes definições sempre partem de uma rede de atores que se articula em prol de um desenvolvimento comum.

A primeira definição que temos, mais difundida no mundo do business, é a questão de ecossistemas de negócios. Ela foi criada ainda nos anos 1990, por James Moore, e fala que toda a organização possui um ecossistema de negócios. Esse é composto por diferentes atores, como colaboradores, fornecedores, etc., que se articulam para gerar valor para uma determinada empresa hub.

A partir dos anos 2000, surge o termo ecossistemas de inovação para definir então essa ideia de plataforma de diferentes atores que se orquestram para entregar valor ao cliente. Ou seja, existe uma empresa hub que coordena essa ação e o objetivo comum é a geração de valor.

Aqui podemos aplicar essas definições em diferentes possibilidades. Por exemplo, a SoftDesign tem um ecossistema próprio que envolve fornecedores, clientes, até mesmo universidades – que indiretamente interagem com a empresa através de seus profissionais, gerando maior valor para os clientes. Então é uma visão muito estratégica de como a organização se articula e organiza suas relações para gerar valor ao mercado e à sociedade.

Esclarecido isso, temos o surgimento de uma preocupação muito grande em relação ao ecossistema de inovação enquanto um território, definição que começa a ficar famosa após 2010. Basicamente, nos deslocamos – e aqui não há certo nem errado, são somente duas formas de usar o termo – da ideia de uma plataforma que tem uma empresa hub que se articula para gerar valor, para a ideia de uma localidade, de uma região ou até de uma cidade, que possui uma série de atores que se organizam para gerar desenvolvimento regional, para impactar positivamente a sociedade.

Então hoje enxergamos, de forma muito forte, a difusão desses dois conceitos: tanto a ideia de ecossistema como uma plataforma e que toda a organização vai ter a sua plataforma de negócios, o seu ecossistema de inovação; quanto a ideia de um ecossistema enquanto um território, com seus diferentes atores, como empresas, universidades, governo, agindo para gerar desenvolvimento, para gerar mais inovação para a sociedade.

O desenvolvimento do ecossistema de inovação

SD – Então o ecossistema de inovação de uma empresa objetiva gerar valor para o cliente, e o ecossistema de inovação de território tem como intuito desenvolver a região como um todo?

AZ – Isso, exatamente. Em todas as definições, o ecossistema de inovação envolve uma rede de organizações interconectadas que coevoluem, que se desenvolvem juntas. Mas aí, de um lado temos essa visão de plataforma, onde existe uma empresa hub que coordena os processos de criação de valor, com ganhos compartilhados na rede; e do outro, essa visão com delimitação geográfica, onde existem mecanismos de coordenação e recursos relacionais, que geram ganhos compartilhados na localidade.

Nessa última, vale salientar, a relação é mais fluída, porque muitas vezes não há um mecanismo formal de interação, e por isso são necessários processos de governança para o desenvolvimento do ecossistema. Se pensarmos em Porto Alegre, por exemplo, precisamos de processos e de instituições que de alguma forma ajudem nessa coordenação dos diferentes atores. E, a partir dessa relação, teremos recursos estratégicos nesse território, os diferenciais que a cidade gera a partir da interação desses atores. Aqui, os ganhos são amplos, pois se referem não somente aos membros do ecossistema, mas ao desenvolvimento da localidade como um todo.

É importante destacar a existência dessas duas visões – e aqui podemos trazer o papel relevante da academia – pois quando pensamos no desenvolvimento de um ecossistema de inovação, é claro que faz diferença se estamos falando de uma localidade, ou de uma empresa. Porque os processos de desenvolvimento são diferentes.

Se formos pensar na origem do termo, eco vem de casa e sistema de complexo, então precisamos saber de qual casa complexa estamos falando. A origem e a difusão da palavra ecossistema também tem influência da biologia: quando pensamos em um ecossistema vivo, da natureza, temos organismos vivos atuando junto a questões abióticas – não vivas. Ou seja, nos negócios, existem coisas que podemos gerenciar e outras não, mas precisamos pensar em como trabalhar as relações para que de fato consigamos desenvolver o ecossistema de inovação da empresa ou da região.

A transformação digital é fundamental

SD – Pensando então no ecossistema de inovação de negócios, como plataforma, qual é o papel da tecnologia nesse desenvolvimento? Como funciona essa relação?

AZ – A tecnologia foi fundamental para a articulação desses ecossistemas porque possibilita uma maior interação entre os diferentes atores. A troca de informação fica muito mais rápida e todos ganham com a agilidade. Os processos se aceleram, então é importante ter uma plataforma (e não estamos falando aqui necessariamente de uma plataforma digital) na qual as organizações vão interagir para gerar valor ao cliente.

Agora, uma vez que eu tenha uma plataforma digital bem desenvolvida, que facilite ainda mais essa troca entre os agentes, esse ecossistema vai se desenvolver mais rápido se comparado a uma empresa hub que tenha um baixo nível tecnológico e, consequentemente, uma menor interação entre os seus parceiros de negócios.

Nesse sentido, hoje estamos vendo um processo muito forte de transformação digital de todos os negócios, e ela está relacionada à necessidade de maior interação, principalmente considerando essa situação da pandemia e da distância física. Ou seja, a organização não consegue mais gerar valor para o cliente presencialmente, não pode mais ter a visita de um fornecedor, e de alguma forma precisa manter essa interação. A tecnologia tem ainda um papel estratégico nesse desenvolvimento de outras formas, como na geração efetiva de novos conhecimentos, produtos e serviços em conjunto.

Sem dúvida, a tecnologia é um driver muito importante no desenvolvimento dos ecossistemas, especialmente dos ecossistemas como plataformas de negócios para as empresas. E isso será uma crescente, a partir de agora não tem mais volta, é um aspecto bem importante.

Vale salientar que aqui estamos falando de diferentes níveis de transformação. Estamos considerando desde uma pequena empresa que passa a usar o WhatsApp enquanto instrumento de venda, até empresas maiores que vão precisar de sistemas robustos para a comunicação interna, para compartilhamento de dados, para manter a segurança da informação. É nessa visão que a transformação é fundamental e inevitável para todos os negócios, pois ela interfere na relação com colaboradores, fornecedores e consumidores finais. Uma vez que essas trocas sejam mais efetivas, teremos um ecossistema muito mais desenvolvido, porque temos fornecedores conhecendo melhor as necessidades dos clientes, e clientes muito melhor atendidos – e muito mais fies àquela organização.

Objetivos compartilhados são a base da cooperação

SD – Na sua opinião, como a pandemia impactou os ecossistemas de inovação que já estavam em desenvolvimento?

AZ – Sem dúvida, a pandemia acelerou a transformação digital, isso é muito visível. Em termos de ecossistema, o fato de termos um inimigo comum é importante, porque dá um sentido de compartilhamento, de complementaridade, é a base da cooperação.

Se não temos objetivos compartilhados, sejam eles quais forem, não há cooperação. Em função da pandemia, pensando agora no ecossistema de inovação enquanto um território, num primeiro momento tivemos uma fase de indefinição das universidades, dos governos, das empresas: todos paralisados tentando desenvolver estratégias. Agora, o que temos visto no país são todos esses atores buscando auxílio mútuo e maior compartilhamento.

A UFRGS, por exemplo, tem o projeto SOS PME, do qual participei da equipe idealizadora. Por meio dele, a universidade fornece suporte para micro e pequenas empresas, totalmente de graça, para que essas consigam pensar em estratégias de desenvolvimento, pensar em alternativas diante da crise. Obviamente não é possível resolver o problema de todos, mas há essa disposição para ajudar o empreendedor a pensar alternativas e mostrar que a Universidade sim, se importa.

Na UFRGS, nós entendemos que somos parte de uma sociedade em que o sucesso de um está vinculado ao sucesso do outro, ou seja, o sucesso da Universidade não está somente em formar mão de obra qualificada, mas entendemos que somos parte de uma sociedade maior cujo objetivo é buscar o desenvolvimento e a redução do impacto econômico da crise.

Há então, com a pandemia, essa guerra compartilhada. Existem dois lados: de um lado temos um impacto brutal na economia, no PIB; mas do outro há, em vários níveis, essa maior articulação. E o nível de maturidade de um ecossistema está justamente relacionado ao nível de confiança, de troca, de compartilhamento de objetivos e resultados.

Inovação aberta e Venture Capital

SD – Qual a vantagem para uma empresa em estar dentro de um ecossistema de inovação enquanto território? Devemos considerar somente parques tecnológicos como ecossistemas de inovação, ou podemos enxergar ecossistemas maiores, como por áreas de mercado?

AZ – Neste caso, também há uma pequena confusão no senso comum. É claro que o TECNOPUC, por exemplo, tem o seu ecossistema de inovação que envolve a universidade, as empresas e as associações que estão naquele espaço físico. Ali percebemos as organizações concentradas, coexistindo. Mas quando falamos de ecossistema de inovação como território, eu normalmente tenho uma visão mais ampla, maior, que tem uma ligação muito mais forte com uma região ou como uma cidade – do que essa visão mais restrita de um parque tecnológico.

Sempre como referência acabamos usando o Vale do Silício como ecossistema de inovação. Ele não é pequeno, envolve uma área com muitas cidades. Mas o mais importante é que naquela região, naquelas diferentes cidades, existe um conjunto grande de empresas de tecnologia que trocam informações e que interagem com a universidade.

Existe um fenômeno muito interessante que acelerou o desenvolvimento do Vale do Silício: é que a partir do momento em que alguns empresários enriqueceram, eles passaram a fornecer mais Venture Capital, Smart Money, tornaram-se Investidores Anjos para as empresas nascentes, as startups. E esse é um ponto muito importante para o desenvolvimento do ecossistema: as organizações se perceberem como parte de um sistema muito mais complexo, no qual não adianta que somente uma inove. O sucesso do concorrente, da universidade, também será o meu sucesso, e vice-versa.

Agora, com a COVID-19, temos alguns setores que estão sofrendo menos, como os de higiene, alimentação, indústria de software, etc; enquanto outros foram muito impactados, como calçados, vestuário – onde vemos um aumento de desemprego e de outros impactos negativos para a sociedade. É nesse ponto que acredito que a pandemia pode ser importante, porque as empresas começam a perceber que elas fazem parte de algo maior, que não é só o seu desempenho, o seu ecossistema de negócios que importa. O contexto é fundamental, a minha casa enquanto cidade, região, faz muita diferença em relação à inovação e ao desenvolvimento que eu posso gerar.

Por outro lado, temos as cadeias verticais que também começam a se articular mais em função da COVID-19, percebendo que a inovação é resultado de uma interação. Temos uma mudança de mindset muito grande quando falamos de inovação: daquela inovação mais fechada, nos limites da organização – onde é preciso ter um ótimo time de desenvolvimento e profissionais muito qualificados, além de alto investimento – para uma visão de inovação aberta.

Inovação aberta acontece quando a organização percebe que ela precisa interagir e gerar valor de diferentes formas. Ela pode não somente gerar receita com a venda dos seus produtos ou serviços, mas, por exemplo: ela tem um colaborador que quer desenvolver uma ideia (que não teria espaço no core business), mas a empresa apoia a montagem de uma spinoff que vai se desenvolver e que pode, de alguma forma, gerar valor.

Portanto, temos também como fator determinante para o desenvolvimento do ecossistema a mudança de entendimento sobre o que é inovação e de como inovação se desenvolve. De uma inovação fechada para uma inovação aberta, que é resultado das relações e do compartilhamento entre os diferentes atores.

Mecanismos de coordenação

SD – A Aliança para Inovação de Porto Alegre poderia ser citada como um exemplo que vem para unificar esses diferentes ecossistemas?

AZ – Sim. A Aliança para Inovação é um exemplo de mecanismo de coordenação. Temos uma cidade, que é Porto Alegre, e a partir dela temos a necessidade de compartilhar e, portanto, de organizar esses diferentes atores. A ideia da Aliança em ter programas compartilhados, como por exemplo o MBA de Ecossistemas de Inovação (com a coordenação e participação de professores da UFRGS, Unisinos e PUCRS), é tentar entregar valor para a sociedade, como resultado de um esforço compartilhado.

A Aliança para a Inovação é um bom exemplo de atores que decidiram que precisavam se articular se quisessem trazer desenvolvimento para a sociedade. É essa visão de que eu faço parte de algo maior, que universidades, empresas e governos precisam interagir se querem ver o desenvolvimento do ecossistema de Porto Alegre.

Neste momento, também temos visto um movimento de organização de ecossistemas regionais no Rio Grande do Sul, e esses movimentos dependem de iniciativas como a Aliança para a Inovação.

A importância da coopetição

SD – Falando de movimentos regionais, o Vale dos Vinhedos, na serra gaúcha, poderia ser considerado um ecossistema de inovação enquanto território?

AZ – Claro! Na minha tese de doutorado, eu trabalhei com o setor vitivinícola da serra gaúcha – é um setor que eu adoro e continuo sempre pesquisando. É interessante, nesse caso, que sempre houve um objetivo compartilhado que foi motivando a interação dos atores, tanto em momentos de crise quanto em momentos positivos, como na escolha da denominação comum de origem do vinho produzido na região – o que foi uma inovação.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira indicação geográfica de procedência do Brasil. Foi a primeira vez que os produtores de uma região se uniram para atestar que aquela localidade tinha características específicas que só são encontradas ali. Ou seja: o território faz com que todos tenham uma cultura compartilhada, de herança italiana, de cultivo da uva, de produção do vinho. A partir desse movimento, surgiram outros projetos desse tipo no país, e hoje já temos indicação geográfica de procedência para diversos produtos.

O interessante é pensar que as regiões dos arredores do Vale dos Vinhedos também se beneficiaram, e foram se articulando e buscando organizar o seu ecossistema, como por exemplo o Caminho de Pedras, as cidades de Pinto Bandeira, Flores da Cunha, etc. Todas essas regiões também passaram a se organizar para a ter a sua indicação geográfica de procedência.

Então, a delimitação de um sistema é isso: a região ou a cidade conseguir mostrar que essa localidade tem uma característica única que a diferencia, que determinados recursos só serão encontrados ali. É um misto de cultura, trajetória histórica, de superação em crises, de projetos compartilhados, de confiança. Tudo isso faz com que esse ecossistema se desenvolva.

É uma questão de interdependência. Não existiria o Vale dos Vinhedos se não houvessem todas aquelas vinícolas na região. Da mesma forma, não existiria a rota do Caminho das Pedras se houvesse só uma casa: ela não seria suficiente para criar o impacto que hoje aquele ecossistema tem. Ainda, nesses caminhos também existem restaurantes, hotéis, etc. que mostram que a diversidade de atores também é importante para o desenvolvimento.

Fazendo o paralelo com as cidades, em Porto Alegre, por exemplo: a UFRGS sozinha não gera desenvolvimento, ela não vai gerar valor para a sociedade por si só. Ela só consegue fazer isso quando interage, seja no ensino, seja entregando pesquisa, seja através da extensão, de projetos que buscam o desenvolvimento tecnológico compartilhado.

É a mesma coisa nas empresas. Para que tenhamos um ecossistema de inovação em Porto Alegre, bem desenvolvido, não adianta que somente uma pense sozinha. Elas precisam se articular. E a crise está evidenciando isso ainda mais. O setor hoteleiro, por exemplo, os restaurantes, já estão se mobilizando em conjunto para buscar melhores resultados. O sucesso de um depende do sucesso do outro.

O ecossistema de inovação pode trazer ainda essa contribuição: de não pensar mais nos concorrentes somente como concorrentes, mas também como necessários para o sucesso. Chamamos isso de coopetição. Afinal, se houver somente uma empresa, não há diversidade. O monopólio não é bom para a inovação, visto que uma empresa sem concorrentes não precisa se esforçar para fornecer o produto ao mercado e conquistar os clientes.

Pessoas e aspectos humanos

SD – Para finalizar, acreditamos que é importante lembrar que toda Pessoa Jurídica é composta por Pessoas Físicas. Quais são as características que esses atores, como pessoas, precisam ter ou desenvolver para contribuir com ecossistemas de inovação?

AZ – Esse é um aspecto fundamental quando pensamos em inovação. A própria literatura, muitas vezes, cita a inovação como algo empresarial, esquecendo-se que ela é feita por pessoas. Pessoas que tem sentimentos, que vivem suas ansiedades, que tem um histórico de relações.

Então, um ecossistema vai se desenvolver porque existem pessoas, dentro das instituições e empresas, dedicadas, engajadas. O engajamento é fundamental. Não há desenvolvimento sem pessoas que liderem e pessoas que estejam engajadas nos processos. São essas pessoas que fazem diferença, e não os contratos de cooperação assinados.

Esse é um ponto importante em todos os ecossistemas. Então o desafio é também mobilizar pessoas, engajar pessoas nesses processos. Para que as pessoas acreditem efetivamente naquilo, para que troquem informações.

Na questão da serra gaúcha, por exemplo, as pessoas tiveram um papel fundamental no desenvolvimento do Vale dos Vinhedos. Houve uma mudança de geração que fez toda a diferença naquele ecossistema.

As primeiras e segundas gerações das vinícolas eram muito competitivas e muito fechadas. Havia aquela visão de que o conhecimento era exclusivo e não deveria ser compartilhado. Com o passar do tempo, quando houve a formação das escolas de enologia e os filhos começam a estudar juntos (a 3ª geração dessas famílias), é perceptível a mudança de mindset. Eles começam a perceber que as vinícolas sozinhas não teriam tanta força.

Hoje vemos movimentos simples, mas importantes na região, como as confrarias. Os proprietários/gestores das vinícolas se encontram mensalmente para degustar seus vinhos, trocar conhecimentos e opiniões. Esses espaços são muito importantes.

Outro exemplo é o do próprio Vale do Silício. Parte do sucesso dele refere-se a esse aspecto humano. Os profissionais daquela região trocam de empresas e levam consigo os conhecimentos adquiridos, as formas de fazer, os processos. Também há uma proximidade de amizade entre profissionais que trocam informações e isso foi desenvolvendo uma rede de relacionamentos muito forte naquela região.

Construir esses relacionamentos entre pessoas físicas, esse capital social, faz muita diferença na inovação da organização e na inovação de uma determinada região. Afinal, é a pessoa que leva o nome da organização, que gera confiança, que gera troca, entre outros.

Por isso eu acredito que, tanto universidades quanto empresas precisam olhar mais para os aspectos humanos e para a importância desses relacionamentos de pessoas nos processos de desenvolvimento de inovação.

Foto do autor

Micaela L. Rossetti

Estrategista Digital, especialista em Marketing Digital e Branding. É graduada em Jornalismo (UCS), Mestre em Comunicação Social (PUCRS) e tem MBA em Gestão de Projetos (PUCRS). Especialista em Growth Marketing, Search Engine Marketing, Inbound Marketing e Content Marketing.

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